Arena da Amazônia encanta pela beleza, mas tem problemas a corrigir
Inaugurado neste domingo, estádio agrada torcedores, mas tem problemas estruturais e operacionais, como péssimo atendimento nos bares e assentos inexistentes
Os cerca de 20 mil torcedores que estiveram na inauguração da Arena da Amazônia, neste domingo, foram praticamente unânimes em um ponto: a beleza do estádio. Inspirado em um cesto de palha indígena, o palco de Manaus para a Copa do Mundo encantou: maravilhoso, espetacular e fenomenal foram alguns adjetivos usados para descrever a arena. No entanto, ficou claro também que ainda há muito o que melhorar. Em seu primeiro teste, com pouco menos da metade da capacidade total, o estádio apresentou problemas estruturais e operacionais como assentos inexistentes, banheiros indiscretos, falhas na telefonia e, principalmente, péssimo atendimento nos bares.
- Acho que no geral o resultado foi positivo. A estrutura conseguiu responder à demanda. A população gostou do estádio. Mas a gente percebe também que ainda são precisos ajustes. São situações específicas que identificamos e, obviamente, nos preocupam. Vamos trabalhar muito na próxima semana para realizar estes ajustes e vamos equalizar essas situações ao longo dos testes. Até maio, vamos entregar o estádio redondinho para a Copa do Mundo - afirmou o coordenador da Unidade Gestora da Copa em Manaus (UGP), Miguel Capobiango, após o empate por 2 a 2 entre Nacional-AM e Remo pela Copa Verde.
Apesar de a inauguração do estádio não ter sido um evento-teste oficial da Fifa e do Comitê Organizador Local (COL), representantes das entidades estiveram na partida deste domingo e também se mostraram satisfeitos com o resultado.
- Não viemos para avaliar a operação em si, porque ainda não está na hora. Estamos aqui pela inauguração, que é importante para nós. Para o Comitê, acho que a Fifa também, o importante é que exista o teste. E como primeiro teste, foi excelente. Foram identificados alguns problemas de serviço, mas isso faz parte. Devagarinho, vai melhorando a cada jogo - disse o CEO do COL, Ricardo Trade.
Antes do início da Copa do Mundo, o COL e a Fifa devem realizar pelo menos um evento-teste oficial em cada um dos seis estádios que não foram usados na Copa das Confederações - Arena Corinthians, Arena da Amazônia, Arena da Baixada, Arena das Dunas, Arena Pantanal e Beira-Rio. O Mané Garrincha, que recebeu apenas um jogo da competição de 2013, também receberá novo evento. Nestes testes oficiais, são colocadas em prática as ações operacionais que serão usadas no Mundial.
BARES PROVOCAM RECLAMAÇÃO GERAL
Assim como foram unânimes em elogiar a beleza do estádio, os torcedores também fizeram coro nas reclamações em relação ao atendimento nos bares. Antes mesmo do início da partida, as filas já eram enormes. Durante o jogo, faltou bebida e alimentos em alguns pontos de venda.
- Tinham que ter instalado mais bares. Também deveriam ter colocado mais pessoas para atender. Vão ter que melhorar muito isso aí. Perdi quase o primeiro tempo inteiro. O primeiro gol da arena, eu não consegui ver porque estava na fila - reclamou o torcedor Fabrício Trajano.
No intervalo do jogo, as filas nos bares ficaram ainda maiores. Em alguns locais, houve princípio de confusão e a polícia precisou ser chamada para acalmar os ânimos de torcedores irritados com a demora.
- É um absurdo o que estão fazendo. Fiquei 50 minutos na fila. Como é que colocam apenas uma pessoa para atender no caixa? - questionou o empresário Ailton Campos.
O coordenador da UGP, Miguel Capobiango, admitiu o problema no atendimento dos bares e prometeu melhorias para os próximos jogos na arena.
- Não foi uma questão física, mas de operação. Precisamos aumentar a quantidade de pessoas atendendo, treinar o pessoal. Realmente, faltou gente para operar os bares. Na verdade, o exercício é importante por isso, para termos condições de testar a estrutura e saber se ela vai funcionar. Já sabemos que é um ponto crítico e vamos nos preparar para que não aconteça novamente.
ENTRADA É TRANQUILA, MAS TRÂNSITO FICA CARREGADO
Com público limitado a 20 mil pessoas e portões abertos quatro horas antes do início da partida, a entrada dos torcedores no estádio foi tranquila. Não houve filas nos dois pontos de revista policial e nem nas catracas da arena.
- Viemos de ônibus e foi muito tranquilo. Chegamos cedo, não pegamos fila, entramos rapidamente. Não está nem parecendo Brasil - brincou o vigilante Rainekson Amaral.
Porém, o trânsito ficou complicado em alguns locais. Mesmo não se tratando de um evento-teste oficial, o governo aproveitou a oportunidade para simular os isolamentos que serão feitos durante a Copa. Com isso, as principais vias próximas ao estádio foram fechadas, o que gerou congestionamentos em pistas paralelas. Os torcedores que foram ao jogo de carro também precisaram estacionar em áreas muito distantes da arena.
- Pegamos engarrafamento e tivemos que parar o carro a uns dois quilômetros do estádio. Viemos andando, mas não incomodou muito porque já estávamos sabendo que seria assim - contou o comerciante Eduardo de Almeida.
ORIENTADORES AGRADAM, MAS ARENA TEM CADEIRAS 'FANTASMAS'
O serviço de orientação ao público foi outro ponto elogiado pelos torcedores. Cerca de 300 voluntários auxiliaram as pessoas dentro e fora do estádio. Mapas detalhando os setores também foram espalhados pelas paredes para auxiliar na localização. A maioria dos torcedores respeitou a numeração de assento indicada no ingresso.
- Gostei dos ajudantes. Recebemos orientações desde a entrada no estádio e não tivemos nenhuma dificuldade para encontrar nossos lugares - revelou a esteticista Alessandra da Costa.
No entanto, cerca de 200 torcedores tiveram uma surpresa desagradável: quando chegaram aos setores indicados nos seus ingressos, eles descobriram que seus assentos não existiam.
- Foi engraçado porque a fileira pulava direto para o número dezesseis. Não tinha a minha cadeira nem a do meu tio, que eram as de número sete e oito - revelou o operário Amaral Carvalho, beneficiado com dois dos sete mil ingressos distribuídos para os trabalhadores da obra.
Todos que tiveram problema com assentos inexistentes foram alocados na arquibancada superior do estádio, em uma área que não deveria ser ocupada neste primeiro teste.
- Identificamos isso na hora. Foi um problema na gráfica que imprimiu os ingressos para o Nacional (time mandante da partida) ou um problema no mapeamento dos assentos. Vamos pegar o relatório das catracas e verificar onde estão estes erros para corrigi-los - garantiu o coordenador Miguel Capobiango.
'BANHEIROS INDISCRETOS' E CHUVA NA ARQUIBANCADA
No geral, os banheiros da arena agradaram ao público. Com fiscais nas portas de cada unidade e equipes constantes de limpeza, os torcedores não tiveram grandes problemas nesta área.
- Estão funcionando bem - resumiu o professor Alexandre Ferreira.
Ainda assim, a reportagem do GloboEsporte.com flagrou alguns banheiros fechados e mictórios interditados.
Outro problema identificado foram os "banheiros indiscretos". As unidades são dispostas em pares - masculino e feminino -, um de frente para o outro. O problema é que, em alguns casos, é possível ver de fora o que se passa dentro do banheiro.
- Até que está limpo e não tem fila. Mas quando a gente sai do banheiro feminino, damos de cara com o masculino e dá para ver lá dentro. Com certeza podiam ter feito de uma maneira melhor - reclamou a administradora Fabíola Salazar.
Segundo o coordenador da UGP, Miguel Capobiango, a falha na arquitetura de alguns banheiros foi identificada e os responsáveis pela obra terão que apresentar uma solução.
- Eu percebi isso, principalmente em alguns banheiros no lado leste. Vamos resolver. Será preciso instalarem alguma barreira de visibilidade.
Outra questão estrutural que chamou a atenção foi o fato de grande parte da arquibancada inferior não ser protegida pela cobertura do estádio. Pouco antes do início da partida, caiu uma chuva rápida, mas suficiente para provocar um corre-corre nas primeiras fileiras. Muitos torcedores recorreram às capas e guarda-chuvas.
- Sabemos que em Manaus sempre chove, principalmente nesta época do ano. O ideal seria que tivesse cobertura em toda a arquibancada - sugeriu o torcedor Marcelo Froes, que estava prevenido com capas de chuva para ele e a esposa - pelas fotos, eu já imaginava que molharia, por isso trouxe as capas.
- Foi uma situação em que era preciso escolher: ou protegia as pessoas da chuva e não permitia que o sol pegasse no gramado, ou o contrário. Então, foi necessário fazer assim. Faz parte - argumentou o coordenador Miguel Capobiango.
GRAMADO E ACESSIBILIDADE RECEBEM ELOGIOS
A decisão por uma cobertura mais curta, que, apesar de não cobrir toda a arquibancada, permite maior incidência do sol sobre o gramado parece que deu resultado. O campo da Arena da Amazônia suportou bem seu primeiro teste e recebeu elogios do COL.
- O gramado está muito bom. Para o primeiro jogo, achei que se comportou de maneira excelente. Um sucesso absoluto - afirmou Ricardo Trade.
Outro ponto que recebeu elogios foi a acessibilidade. Cadeirantes não tiveram grandes dificuldades para circular no interior da Arena e, no geral, ficaram satisfeitos com os locais reservados para que acompanhassem a partida.
- Numa avaliação de zero a dez, eu fico com a nota nove. Não tivemos dificuldades, o estádio é lindo e o local está ótimo para ver o jogo - elogiou o funcionário público Amaury Ribeiro.
O torcedor, porém, fez uma ressalva com relação à chegada dos deficientes físicos ao estádio.
- Para ficar nota dez, a van que nos transporta do estacionamento até o estádio poderia nos deixar em algum lugar aqui dentro, onde tenham elevadores. Descemos lá na entrada normal e tivemos que subir duas rampas grandes. Para quem não tem acompanhante, seria muito complicado.
TELEFONIA E INTERNET MÓVEL DECEPCIONAM
Muitos torcedores que gostariam de compartilhar suas fotos da inauguração da arena nas redes sociais tiveram que esperar para fazer isso em casa. Isso porque, o sinal de internet móvel, que funcionou razoavelmente até uma hora antes do jogo, se tornou praticamente inexistente durante a partida.
- Está horrível. Não consigo entrar em nada, demora muito tempo até para conseguir ver uma mensagem. Ainda assim, não dá para responder - reclamou o servidor público Marcos Antônio Vieira.
E não foi apenas a internet móvel que ficou ruim. Até mesmo para fazer ligações de dentro da Arena foi difícil conforme o estádio foi ficando cheio. Durante o jogo, as chamadas só eram possíveis em alguns pontos específicos das arquibancadas ou do lado externo.
MUITA OBRA POR TERMINAR
Outro problema que ficou claro foi a necessidade de se concluir muitas partes da obra que ainda estão incompletas, tanto na parte interna quanto na parte externa do estádio.
Do lado de fora, eram visíveis trechos ainda em obras nos caminhos de acesso dos torcedores. Do lado de dentro, era possível encontrar restos de construção em alguns pontos do anel das arquibancadas inferiores.
Em salas e corredores internos e no anel das arquibancadas superiores, ainda não liberadas, era possível encontrar máquinas e muitos acabamentos ainda por terminar.
De acordo com o governo do Estado do Amazonas, a Arena está atualmente com cerca de 98% de conclusão.
- Não estou vendo uma obra inacabada. Tem ainda algumas coisas a serem feitas, como todos os outros estádios tiveram. Mas inacabada não está. O que faltam são detalhes, que ao longo da ocupação você vai fazendo. A empresa vai continuar aqui, trabalhando nas coisas que ainda faltam serem feitas - explicou o governador Omar Aziz.
Esta semana promete ser de muito trabalho no estádio para que os problemas sejam resolvidos a tempo da próxima partida, marcada para sábado: Fast Clube contra Princesa do Solimões, jogo de ida da decisão do primeiro turno do Campeonato Amazonense. A previsão é de que, para este teste, as arquibancadas superiores ainda não estejam liberadas.
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